A relação terapêutica tem sido considerada um elemento fundamental em todas as formas de psicoterapia. Um número crescente de autores na tradição cognitivo-comportamental tem enfatizado a importância de considerar o relacionamento terapêutico como instrumento de mudança (Safran, 2002).
A importância de tal relação foi apontada por Guilhardi (1997), que afirmou que em uma sessão de terapia, os dados disponíveis para análise são os relatos do cliente e a relação terapêutica. Kerbauy (1999) complementou afirmando que as variáveis relevantes em clínica são categorias amplas que incluem resistência à mudança, relacionamento terapêutico e interação entre terapeuta e cliente.
Há autores que consideram o vínculo terapêutico um meio para facilitar outros aspectos importantes do processo de mudança, para aumentar o valor reforçador do terapeuta, levando a um maior engajamento na terapia, e também para modelar comportamentos adequados, promovendo expectativas positivas e soluções para superar resistências (Raue e Goldfried, 1994).
Nessa direção Rangé (1995) afirma que a relação terapêutica poderá exercer influência positiva, se o terapeuta tiver participação efetiva no tratamento, já que, tendo-se desenvolvido uma relação terapêutica positiva, o cliente sente-se suficientemente confortável para fornecer as informações necessárias para a terapia (Lettner, 1995). Da mesma forma, para Shinohara (2000), a relação terapêutica é vista como fator determinante do processo terapêutico, a qual pode facilitar o trabalho e a possibilidade de atingir metas, caso se estabeleça um clima de confiança e acordo harmonioso.
Frank e Frank (1993) demonstraram que os clientes que avaliaram de forma positiva seus terapeutas foram justamente aqueles que atingiram mais efetivamente seus objetivos (adesão total). Marziali (1984, in Rangé, 2001) também apresentou dados indicando que a concordância entre terapeuta e cliente sobre a qualidade da relação terapêutica foi fator preditivo para a efetividade do tratamento; ou seja, quanto maior ou de mais qualidade a aliança terapêutica, maior a efetividade da terapia.
Schindler, Hohenberger-Sieber e Hahlwerg (1989 in Rangé, 2001) afirmaram que a negligencia à relação terapêutica pode ser considerada como uma das maiores explicações para o fracasso do tratamento (reconhecimento pelo abandono prematuro da terapia e/ou pelo não-cumprimento dos objetivos iniciais). Decorre desse raciocínio que o planejamento do trabalho a ser realizado pelo terapeuta deve incluir as especificidades necessárias para o estabelecimento de uma relação terapêutica adequada (Vinck, Verhaeren, e Pierloot, 1998 in Rangé, 2001).
Os autores mais consagrados na literatura de terapia comportamental e relação terapêutica são Robert J. Kohlenberg e Mavis Tsai, os quais desenvolveram a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) baseada no conceito de reforçamento em situação clínica e generalização ao ambiente externo. O trabalho é realizado por intermédio da observação e intervenção nos comportamentos clinicamente relevantes (CRBs) que ocorrem na presença do terapeuta. Esses comportamentos são divididos em três tipos: CRB1 refere-se aos problemas do cliente; CRB2, aos progressos do cliente; e CRB3 às interpretações do cliente sobre seu próprio comportamento (Kohlenberg e Tsai, 2001).
O conceito de aliança terapêutica é visto como um CRB2 por Kohlenberg e Tsai, os quais consideram a aliança um importante componente da relação cliente-terapeuta. Essa aliança gira em torno da habilidade do cliente de se envolver com a auto-observação, facilitando, portanto, outros CRBs (Kohlenberg, e Tsai, 2001). Em outras palavras, o terapeuta deve ser sensível o suficiente para identificar o tipo de relação terapêutica necessitada pelo cliente. É essa sensibilidade e a relação humana de aceitação e interesse que tem função terapêutica.
Outra forma de pensar a relação terapêutica é a considerando positiva quando há semelhança entre os objetivos do terapeuta e do cliente para a terapia. Se ambos dividem metas, significa que haverá colaboração mútua, ampliando a possibilidade de o tratamento ser bem sucedido. Essa definição de boa relação terapêutica deixa implícito algo bastante interessante: a importância da participação do cliente na terapia. O profissional deixa de ser pensado como alguém com conhecimento superior que ajudará alguém com problemas. Ambos passam a ser iguais em uma relação, sendo que um deles tem o objetivo de facilitar as descobertas do outro.
Referências
Britto, I. A. G. S.; Oliveira, J. A.; Sousa, L. F. D. (2003). A relação terapêutica evidenciada através do método de observação direta. Rev. bras.ter. comport. cogn., dez. vol.5, no.2, p.139-149.
Safran, J. D. (2002). Ampliando os limites da terapia cognitiva: o relacionamento terapêutico, a emoção e o processo de mudança. Porto Alegre: Artmed.
Shinohara, H. (2000). Relação terapêutica: o que sabemos sobre ela? In R. R. Kerbauy (Org.), Sobre comportamento e cognição 5 (pp.229-233). Santo André: ARBytes Editora.
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