terça-feira, 29 de junho de 2010

Comportamento de procrastinar

É freqüente a queixa de pessoas que não suportam o próprio hábito de deixarem tudo para depois. Quando simplesmente não deixam para depois, essas pessoas se desviam tanto do objetivo principal durante a preparação para aquilo que deveriam fazer que acabam não fazendo mesmo.
A pessoa que procrastina levanta com o firme propósito de que hoje, decididamente, começará a preparar seu currículo no computador, estudar para prova da semana que vem. Bem, mas para começar é importante dar uma arrumadinha na cadeira do escritório que está com a rodinha emperrada. Ok. Para isso de comprar um lubrificante naquela casa comercial maravilhosa onde tem de tudo. Já que esta na rua aproveita para passar numa sorveteria onde toma um sorvete delicioso, depois passa na banca de revistas, vai para casa, mas já é hora do almoço. Depois do almoço começa a lubrificar a cadeira do escritório e aproveita para ver o que mais precisa de lubrificação em casa. Já está quase na hora da academia. Pronto!!! Hoje não dá mais tempo de preparar o currículo ou de começar a estudar.
Chama-se procrastinação a protelação ou adiamento de uma ação decidida ser necessária. Mas evitar tarefas nem sempre é preguiça ou doença. Cogita-se que 80% das pessoas procrastinam com certa freqüência e, como consolo, provavelmente 99% das pessoas devem procrastinar de vez em quando.

As pessoas tendem naturalmente a procrastinarem a dieta, a arrumação dos armários, check-up médico, entrega da declaração do Imposto de Renda (veja que mais da metade dos contribuintes entrega a declaração nos últimos dias, apesar do prazo de dois meses para isso) e outras coisas que, convenhamos, são bastante aborrecedoras.
Um exemplo bem simples é de estudantes que só estudam para prova no dia anterior. Por que eles procrastinam o estudo, deixam para estudar na véspera? Por que procrastinamos tanto??? Penso que faltam esquemas de reforçamento, ou eles não estão sendo bem utilizados. Nas escolas normalmente as provas são mensais então os alunos estudam duramente uma vez por mês (bom, pelo menos na minha época era assim, eu só estudava duramente um vez por mês). E se as provas passassem a ser semanal, do tipo aleatórias? Os alunos teriam que estudar toda semana, ou melhor todos os dias; tive um professor no cursinho que sempre falava "aula dada, aula estudada", consequentemente o comportamento de estudar será mantido; estudar torna-se um hábito. Prova toda semana (esquema de intervalo fixo), elimina comportamento de procrastinação e incentiva o estudo.
A procrastinação merece atenção especializada quando resulta em prejuízo sócio-ocupacional significativo, quando produz acentuado estresse, ansiedade, angústia, depressão e graves sentimentos de vergonha e de culpa pelo não cumprimento de responsabilidades e compromissos.
Diversas explicações já foram tentadas para explicar esse comportamento, tais como medo do fracasso, mentalidade autodestrutiva, perfeccionismo paralisante e muitas outras alegações que soam mais como uma fantasia teórica do que uma realidade constatada. Em termos do prazer, pesar o presente versus o custo e benefício de ações futuras parece ser a dinâmica emocional predominante dos procrastinadores.
Na questão das hipóteses psicológicas uma exceção deve ser comentada; no Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) grave a procrastinação é, de fato, devida ao ritual perfeccionista. No TOC grave, a rigidez dos rituais é tão cansativa que acaba por desencorajar o paciente a executar determinadas tarefas. A eventual procrastinação do banho no paciente com TOC se deve aos exaustivos rituais que a doença obriga a realizar. Esses rituais tornam o banho exageradamente demorado e cansativo, fazendo com que o paciente acabe protelando-o seguidamente. Fora disso, as explicações psicológicas que encontramos em inúmeros textos não se sustentam.
Na realidade o que se observa de concreto é o seguinte: a maioria das pessoas não procrastina atividades prazerosas, tais como comer, beber, assistir filmes, ouvir música e assim por diante. Jogar um futebolzinho com amigos não é procrastinado, enquanto fazer o mesmo esforço físico em academia de ginástica tem uma enorme chance de ser protelado.
O psicólogo Joseph Ferrari, da Universidade De Paul, do estado americano de Illinois, autor do livro Procrastination e de vários artigos (Ferrari, 2005) estudou esse comportamento em países tão distintos como Austrália, Estados Unidos e Venezuela para comprovar que não se trata de um comportamento de raízes culturais, mas uma conduta intrínseca ao ser humano.
Ferrari faz um comentário bem humorado sobre a tendência natural à protelação citando que “a maioria de nós começa o dia procrastinando, ao apertar aquele botão do despertador que permite ficarmos na cama por mais cinco minutinhos”. A procrastinação e suas conseqüências emocionais talvez resultem da contraposição entre o tempo psicológico de cada um, geralmente em concordância com os desejos, e o tempo social, definido pela cronologia cultural e baseado na racionalidade absoluta.
A falta de autocontrole que acaba fazendo com que as pessoas adiem atividades para as quais deveriam dar prioridade pode parecer uma forma impulsiva de comportamento ou uma perda do senso crítico e racional da situação. Mas o assunto é muito mais complexo. É tão complicado a ponto de encontrarmos freqüentemente textos alegando que “aquele que procrastina prioriza coisas menos importantes em vez de direcionar suas ações para aquilo que seria mais necessário realizar”. Ora, primeiramente devemos nos preocupar em saber o que é uma coisa menos importante, e para quem é menos importante.
O bom senso, estimulado pela psicopatologia, recomenda que a procrastinação deva merecer atenção especial quando produz sofrimento. Os exemplos desse sofrimento são variadíssimos; instabilidade familiar, perda econômica, ansiedade, estresse, sentimentos de culpa, perda da produtividade, baixo rendimento escolar e assim por diante.


Ballone GJ, Mania de deixar tudo para depois - Procrastinação, in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, 2010.


Aiai...estou com comportamento de procrastinação, empurrando com a barriga meu poster para o congresso da ABPMC...rsrs.....mas não deixo de ir à academia, assistir TV, etc...quem nunca procrastinou levanta a mão!!

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