quarta-feira, 30 de março de 2011

O que são Contingências de Reforçamento (CR)?

São as unidades básicas de análise e compreensão dos comportamentos e sentimentos humanos e os instrumentos necessários e suficientes para influenciá-los.
Quando alguém observa o que uma pessoa faz (pode ser uma ação operante ou uma ação emocional ou afetiva), não consegue compreender o significado daquilo que observa. Uma pessoa corre, ou chora, ou fala seu nome, ou limpa um móvel, ou fica vermelha, ou grita, ou escreve... e daí? O significado de um comportamento não está na ação em si, mas naquilo que o determina. Uma resposta não é um comportamento. Para compreendermos uma ação e alçá-la ao status de comportamento, temos que relacioná-la com eventos antecedentes e eventos conseqüentes a ela, funcionalmente interligados. A unidade mínima para a compreensão de um comportamento chama-se tríplice contingência. Assim, se uma professora pede a um aluno de seis anos que dê um grito parecido com o do Tarzan (o pedido da professora é o evento antecedente), e Joãozinho grita, procurando imitar o Homem-Macaco (é a resposta), e a professora o elogia dizendo que ele tem pulmões de aço e a classe ri de forma aprovadora (conseqüências), então nós compreendemos por que Joãozinho gritou daquele jeito durante a aula. A resposta foi gritar, mas o comportamento poderia ter outro nome: obedecer ou atender a uma solicitação da professora. Se o grito ocorresse sem tais informações, poderíamos dizer que o comportamento de Joãozinho foi de bagunçar a aula, de agredir a professora, ou até poderíamos supor que estava apresentando um surto psicótico...
Contingências de reforçamento são unidades para análise e intervenção sobre os comportamentos e os sentimentos das pessoas. A contingência de reforçamento mais simples é composta por três termos, daí ser conhecida por tríplice contingência de reforçamento. (Existem outras mais complexas, compostas por quatro, cinco e mais termos.) As CR mostram as interações entre as pessoas e seu ambiente (físico e social).
O primeiro termo da tríplice contingência é o antecedente, o segundo é a resposta (da pessoa) e o terceiro é a conseqüência. Quando os três termos são conhecidos, e são determinadas as inter-relações entre eles (todos os três se influenciam reciprocamente e de modo dinâmico), pode-se dizer que comportamentos e sentimentos, por eles determinados, foram "explicados". Assim, por exemplo, como se explicam os comportamentos de um motorista num semáforo? Um evento antecedente (luz verde) estabelece a ocasião em que uma determinada resposta (avançar com o carro) terá conseqüências que manterão o comportamento de dirigir (chegar ao destino, por exemplo); por outro lado, um outro evento antecedente (luz vermelha) estabelece a ocasião em que a mesma resposta (avançar com o carro) terá uma conseqüência que enfraquecerá o comportamento de ir em frente (uma multa ou um acidente, por exemplo).
Podemos apontar um outro exemplo ilustrativo, mais complexo, da operação das CR na vida cotidiana. Uma pessoa relata que tem estado muito "ansiosa" (ela está, portanto, se queixando de um sentimento). O sentimento nomeado como "ansiedade" é produzido da seguinte maneira, de acordo com o paradigma de CR:
ANTECEDENTES - RESPOSTAS -> CONSEQÜÊNCIAS

ANTECEDENTES:
Um evento com função pré-aversiva, isto é, que sinaliza o aparecimento de um evento aversivo. Por exemplo, o ambiente de trabalho pode ser uma condição que adquiriu função aversiva, devido ao que ocorre nos dois itens seguintes (um ambiente de trabalho não é necessariamente aversivo; pelo contrário, pode ser agradável, desde de que os eventos dos dois itens seguintes sejam diferentes daqueles abaixo descritos). O antecedente é o ambiente de trabalho, portanto.

RESPOSTAS:
Ocorrem reações emocionais da pessoa e os comportamentos operantes emitidos na condição aversiva não alteram a condição adversa. Por exemplo: quando chega no trabalho, a pessoa passa a sentir estados corporais aversivos que ela nomeia de "ansiedade". Ao mesmo tempo, ela não sabe quais comportamentos profissionais e sociais deve emitir (apresenta um déficit comportamental naquela situação) para alterar as condições aversivas presentes no trabalho. Neste caso, portanto, não há nenhuma resposta operante funcional.

CONSEQÜÊNCIAS:
Eventos, em geral de natureza social, que têm função aversiva para aquela determinada pessoa, os quais ela não consegue evitar ou alterar. Por exemplo: um chefe autoritário, que está sempre criticando asperamente seu funcionário, sem que este tenha claro o que fazer para melhorar a relação profissional.

Diante do exposto, fica claro que a pessoa não é intrinsecamente ansiosa. São as contingências de reforçamento (no exemplo, apresentamos o paradigma comportamental que produz "ansiedade") que a tornam ansiosa. É de se esperar que em outros ambientes (com a família em casa, com os amigos em situações de lazer), ela não se sinta ansiosa, pois em tais outros contextos as CR não são produtoras de ansiedade.
Se as CR do trabalho forem intensas e contínuas, pode ocorrer uma generalização do estado de ansiedade para outros ambientes (aqueles que não produzem diretamente ansiedade), o tempo todo (a pessoa não consegue se "desligar" da condição de trabalho, mesmo em horário de descanso). Neste caso, as CR que não produzem ansiedade (produzem outros sentimentos, digamos, agradáveis) perdem sua função, devido à intensidade e à persistência das CR aversivas. Ocorre, então, uma ansiedade recorrente e generalizada (em geral, chamada de "neurótica"), a qual, se for muito intensa, pode dar origem à chamada "síndrome do pânico", que pode exigir tratamento médico e psicológico.
Qualquer exemplo de comportamento ou de sentimento, para ser corretamente analisado, deve ser expresso na forma de contingências de reforçamento.
O tratamento psicoterapêutico, no exemplo de ansiedade profissional apresentado, deve enfocar mudanças nas CR em operação. Alguns objetivos poderão ser elaborados pelo cliente com o psicoterapeuta, conjuntamente, tais como:
•a. desenvolver no cliente um repertório de comportamentos que lhe permita alterar as ações aversivas apresentadas pelo chefe na interação com ele;
•b. mudar de emprego, optando por um ambiente de trabalho mais justo e acolhedor;
•c. avaliar a origem da função aversiva dos comportamentos do chefe: são aversivos para pessoas de modo geral ou o são apenas para o cliente em particular, que lhes atribui uma função aversiva (não reconhecida pelos outros funcionários), decorrente de sua história de vida em particular?;
•d. desenvolver repertórios de comportamentos que gerem conseqüências reforçadoras positivas (gratificantes) no contexto de trabalho e, num sentido mais abrangente, também em outros contextos.
•e. etc..
O psicoterapeuta e o cliente decidem qual objetivo deve ser almejado. Para cada objetivo, haverá estratégias psicoterapêuticas específicas.
Como se pode constatar, o tratamento visa a alterar as contingências coercitivas em operação, substituindo-as por outras contingências reforçadoras positivas amenas. A pessoa, neste sentido, se torna um agente ativo do processo de mudança de seus sentimentos, na medida em que - com ajuda do psicoterapeuta - identifica e descreve as CR em operação, que geram ansiedade (torna-se consciente delas); altera tais contingências através da emissão de comportamentos (a mera consciência somente nos torna aptos para conhecer o que está determinando os sentimentos aversivos, mas não nos instrumentaliza para produzir mudanças; a pessoa precisa se comportar para alterar a realidade). Comportar-se é a única maneira de que a pessoa dispõe para influenciar o mundo em que vive.

Texto retirado de: http://www.terapiaporcontingencias.com.br/perguntas.html#03 

terça-feira, 29 de março de 2011

Atenção

Do ponto de vista da análise do comportamento, o que chamamos de atenção não difere do que chamamos de percepção; estamos, no caso da atenção, mais uma vez falando de controle de estímulos, portanto, de uma relação entre condições antecedentes e repostas operantes.
(...) Atenção é uma relação de controle - a relação entre uma resposta e um estímulo discriminativo. Quando alguém está prestando atenção está sob controle especial de um estímulo. Detectamos a relação mais prontamente quando os receptores estão claramente orientados, mas isso não é essencial. Um organismo está atentando para um detalhe de um estímulo se o seu comportamento estiver predominantemente sob controle daquele detalhe, quer seus receptores estejam ou não orientados para produzir uma percepção mais clara. (pp. 122-124).

Quer saber mais sobre? Sugiro que leiam o livro: Controle de estímulos e comportamento operante - Uma (nova) introdução.
Sério, Andery, Gioia & Micheletto
EDUC - 2010.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Ressurgêrcia comportamental

O psicólogo, em seu trabalho clínico, depara-se frequentemente com situações em que observa comportamentos do cliente que, até então, pareciam fazer parte do passado. Por exemplo, é bastante comum pais queixarem-se do fato de um filho mais velho voltar a apresentar episódios de enurese ou voltar a não querer frequentar a escola quando um novo filho ingressa na família. Comportamentos como esses ocorrem não apenas em crianças. Por exemplo, adolescentes, jovens e adultos, ao passarem pelo rompimento de uma relação amorosa, muito comumente voltam a relembrar ou mesmo a procurar por um antigo amor. Interessantemente, comportamentos como esses podem ocorrer ainda que não estivessem sendo emitidos há um longo tempo.
Genericamente falando, os comportamentos que voltam a ocorrer em condições presentes específicas são objeto de estudo da análise do comportamento sob a denominação de ressurgência comportamental (Catania, 1999; Cleland, Foster, & Temple, 2000; Cleland, Guerin, Foster, & Temple, 2001; Epstein, 1983; Epstein, 1985; Haydu, Batista, & Serpeloni, 2003; Lieving & Latal, 2003; Murayama, Villas-Bôas, Napolitano, & Tomanari, 2004; Reed
& Morgan, 2006; Villas-Bôas, 2006; Villas-Bôas, Murayama, & Tomanari, 2005; Wilson, & Hayes, 1996).
Para saber mais continuei lendo clicando aqui.

sábado, 26 de março de 2011

Para pensar....5

"Tanto quanto aqui nos ocupa, ensinar é simplesmente arranjar contingências de reforço. Entregue a si mesmo, em dado ambiente, um estudante aprenderá, mas nem por isso terá sido ensinado. A escola da vida não é bem uma escola, não porque ninguém nela aprende, mas porque ninguém nela aprende, mas porque ninguém ensina. Ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem: quem é ensinado aprende mais rapidamente do que quem não é. O ensino é, naturalmente, muito importante, porque do contrário o comportamento não apareceria.” (B. F Skinner)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Princípios da Análise do Comportamento (parte 2)

Nos dois posts anteriores coloquei exemplos sobre alguns dos princípios do comportamento que identifiquei no texto do Roosevelt (O antes, o do meio e o depois), agora vou colocar aqui as definições de cada um deles.

Comportamento respondente (ou reflexo): tipo de comportamento onde a maior fonte de controle encontra-se nos estímulos antecedentes.

Comportamento operante: tipo de comportamento onde sua maior fonte de controle encontra-se nos de estímulos conseqüentes.

Condicionamento clássico, pavloviano ou respondente: processo pelo qual um estímulo neutro adquire funções similares as de um estímulo incondicionado através de emparelhamentos prévios.

Reforçamento: processo comportamental utilizado para aumentar a freqüência de um comportamento.

Reforço positivo: processo operante em que a apresentação de um estímulo conseqüente (reforçador) aumenta a freqüencia de uma resposta.

Reforço negativo: processo operante em que a retirada de um estímulo conseqüente (aversivo) aumenta a freqüencia de uma resposta.

Reforçador social: respostas mais flexíveis e, em geral, relacionadas com esquemas intermitentes.

Reforçador primário: tipo de estímulo reforçador que teve sua função estabelecida devida à história filogenética.

Reforçador secundário: tipo de estímulo reforçador que teve sua função estabelecida devido à história ontogenética.

Reforçador generalizado: tipo de estímulo reforçador secundário que se relaciona com vários reforçadores primários.

Reforçador natural: tipo de estímulo reforçador que para ser eficaz depende do estado de privação da própria pessoa.

Extinção operante: quebra da relação de contingência entre uma resposta e uma conseqüência pela suspensão do reforçamento

Punição: processo comportamental utilizado para reduzir a freqüência de um comportamento.

Punição positiva: processo operante em que a apresentação de um estímulo conseqüente (aversivo), diminui a freqüência de uma resposta.

Punição negativa: processo operante em que a retirada de um estímulo conseqüente (reforçador), diminui a freqüência de uma resposta.

Generalização: é um responder de probabilidade similar na presença de estímulos diferentes.

Discriminação: é um responder de maior probabilidade frente a um estímulo, em comparação com outro.

Comportamento privado ou encoberto: comportamentos aos quais só a própria pessoa que os emite tem acesso (sob a pele).


Referências: VOCABULÁRIO DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO. Teixeira Júnior, R. R  & Souza, M. A. O. Esetec.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Palestra APORTA


Tema: Violência Urbana

Palestrante
Dr. Felipe Corchs – Medico Psiquiatra, Assistente do Ipq-Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Núcleo Paradigma de Analise do Comportamento

Local: Rua Major Maragliano, 241, Vila Mariana - SP. No auditório do Centro de Atenção Integrada à Saúde

domingo, 20 de março de 2011

Para pensar.... 4

"As qualidades de uma pessoa devem ser notadas e anunciadas. Não para exaltá-la; mas para servirem de modelos e serem imitados e ampliados" (Guilhardi, H. J).


sábado, 19 de março de 2011

Vocabulário de Análise do Comportamento

Este vocabulário foi elaborado para atender alunos e professores que vejam nesse tipo de material uma boa opção didática para auxílio do ensino e aprendizagem de conceitos da Análise do Comportamento. A lista dispõe de 335 verbetes, com definições simples e objetivas de uma larga variedade de conceitos usados na área. Essa lista pretende abranger o maior número de termos usados pela Análise do Comportamento e excluir aqueles que não são tão importantes para um estudo inicial da abordagem. A lista inclui, por exemplo, alguns conceitos usados em metodologia, termos de outras ciências, e palavras de uso cotidiano, tudo isso sob a perspectiva da Análise do Comportamento.
Para ter acesso a versão reduzida on line do livro clique aqui.
Eu recomendo ler o livro na íntegra.
Vocabulário de Análise do Comportamento: um manual de consulta para termos usados na área
Autores: Ronaldo Rodrigues Teixeira Júnior e Maria Aparecida Oliveira de Souza
Editora ESETec

quinta-feira, 17 de março de 2011

Curso de Atualização em Ansiedade









































Curso de Atualização em Ansiedade - Quintas Feiras das 19 às 22h


Informações www.ceip.org.br
                       amban@amban.org.br
Tel: (11) 3069-6988 / (11) 3069-7925

quarta-feira, 16 de março de 2011

Curso de AT abordagem cognitivo-comportamental







































Acompanhamento terapêutico é uma forma de intervenção e/ou complemento de um tratamento multidisciplinar, no qual o AT (Acompanhante Terapêutico) vai até o ambiente natural do individuo, intervir junto ao paciente no comportamento alvo.
Visa preparar profissionais e estudantes (a partir do 3º ano de Psicologia, Terapia Ocupacional, Enfermagem e medicina nas técnicas de acompanhamento terapêutico).

Informações :  www.amban.org.br
                          amban@amban.org.br

Tel: (11) 3069-6988 / (11) 3069-7925

terça-feira, 15 de março de 2011

Palestra na APORTA



TEMA: APORTA e Transtornos de Ansiedade

DATA: 15/03/2011              HORÁRIO: 20:00 horas

PALESTRANTE: Psicóloga Michelle Martins Vieira Bernardo
Psicóloga da Clínica Personal System e da Instituição Carminha Associação de Reabilitação do Excepcional

Local: Rua Major Maragliano, 241, Vila Mariana

APOIO: CAISM - Santa Casa de Misericórdia

segunda-feira, 14 de março de 2011

Perguntas básicas do AC

Algumas perguntas básicas que todo Analista do Comportamento deveria se fazer juntamente com suas orações antes de dormir:

1. "Qual a função desse comportamento para aquela pessoa?"
2. "Qual é a função da omissão desse comportamento para aquela pessoa?"
3. "Qual é a relação funcional entre esse comportamento e seus efeitos para aquela pessoa?"

Essas perguntas foram retiradas do artigo: Análise funcional do comportamento. Maria Amélia Matos

domingo, 13 de março de 2011

O que é contingência?


Já falei sobre contingência aqui no blog, mas volto a falar porque é um termo muito importante na análise do comportamento.
Quando começamos a estudar Análise do Comportamento ouvimos muito a palavra contingência ; é contingência prá lá, é contingência pra cá,  analisar as contingências.....

Mas afinal o que é contingência?
Contingência pode significar qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos comportamentais e ambientais (Catania, 1993; Skinner, 1953; 1969; Todorov, 1985). Embora possa ser encontrado nos dicionários com diferentes significados, esse termo é empregado, na análise do comportamento, como termo técnico para enfatizar como a probabilidade de um evento pode ser afetada ou causada por outros eventos (Catania, 1993, p. 368).
O enunciado de uma contingência é feito em forma de afirmações do tipo "Se..., então... ". A cláusula "se" pode especificar algum aspecto do comportamento ou do ambiente e a cláusula "então" especifica o evento ambiental conseqüente (Todorov, 1989, p. 354).
Alguns exemplo de relação de contingência:
- Se você fez a tarefa de casa (comportamento), então pode sair para o recreio (mudar de ambiente e ter acesso a lanche, companhia, brincadeiras, etc.); se não, fica em sala...
- Se você leu o capítulo 10 do livro (comportamento), então se sairá bem na prova (obter boa nota, ter informações para discutir com colegas, etc).

QUANDO FALAMOS EM UMA RELAÇÃO DE CONTINGÊNCIA ESTAMOS NOS REFERINDO A UMA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA ENTRE EVENTOS. 

Para entender o conceito de contingência é preciso distinguir contingência de não-contingência (quando um evento pode ocorrer, quer o outro tenha ocorrido ou não) e também, de contiguidade...
Contiguidade implica simplesmente a justaposição de eventos - no espaço ou no tempo, independente da causação. (Catania, 1993, p.61) 
- Relampejou quando abri a janela.
- O onibus parou no ponto assim que cheguei.
- Sempre que aperto o botão com a mão direita, o elevador chega logo.
- Paulo usa sempre a mesma lapiseira para fazer a prova; diz que isso faz com que ele escreva repostas corretas...

QUANDO FALAMOS EM RELAÇÃO DE CONTIGUIDADE ESTAMOS NOS REFERINDO A UMA RELAÇÃO TEMPORAL ENTRE EVENTOS. 


Referência
O que é contingência? Sobre comportamento e cognição. V. 1. Cap. 10. p. 85

quinta-feira, 10 de março de 2011

COMEÇO, MEIO E FIM

Texto de Hélio J. Guilhardi

Muita gente ensinou... Muita gente aprendeu... que as sessões de terapia têm uma lógica. Como uma história que tem começo, se desenvolve e avança para um desfecho. Dentro dessa perspectiva, o terapeuta deve conduzir o enredo, dar-lhe coerência e significado e manter o curso encadeado da vida. Houve tempo – ainda se encontra isto – em que a análise de uma sessão, na supervisão, se encerrava com um delineamento específico do que deveria ser feito na sessão seguinte.
A vida é um processo, mas não um processo lógico. A Lógica (com inicial maiúscula ou minúscula) é comportamento (a ser explicado) e não explicação de comportamento. Quando alguém diz: “pela lógica acredito que ele reagirá de tal maneira...” (e segue-se uma suposição, ou uma previsão de comportamento, ou uma interpretação etc.), essa pessoa está repetindo um hábito cultural ou de senso comum para falar de comportamento. Talvez iludida pela esperança de que a lógica a conduzirá seguramente na direção de prever comportamento. Engana-se! Comportamento é determinado por contingências de reforçamento (coloco ênfase no plural) que se influenciam numa complexa rede de determinações probabilísticas, a qual nem remotamente se aproxima do modelo mecanicista de causação e nem se explica pela Lógica.
O processo psicoterapêutico se dá menos pelo governo de regras e mais pelos eventos do cotidiano do cliente, os quais determinam o controle dos comportamentos do terapeuta de analisar e de intervir. Ou seja, ao invés de ficar sob controle de enunciados tais como “meu cliente estava muito deprimido na sessão passada por causa dos últimos conflitos de relacionamento que teve com a namorada... Vou iniciar a sessão perguntando como está o relacionamento presente com ela” (uma maneira de ter o comportamento, de atuar na sessão, governado por regra), mais apropriado seria o terapeuta iniciar a sessão propondo: “Sobre o que você gostaria de falar?” ou simplesmente aguardando a iniciativa do cliente. Tal postura na sessão não significa que, no correr das sessões, o terapeuta não esteja alinhavando regularidades comportamentais, delineadas a partir de episódios de comportamento coletados na medida em que ocorrem, e que vão sendo sistematizados em busca de regularidades. Tais regularidades são explicitadas na forma de padrões comportamentais, assim como “João se comporta quase sempre com padrões de fuga-esquiva; sente-se o tempo todo ansioso” (uma forma de excesso comportamental); ou “Márcia tem dificuldades para emitir comportamentos que produzam reforços positivos para si mesma” (uma forma de déficit comportamental); ou “Zita é insensível às consequências de seus comportamentos: seu repertório é quase sempre governado por regras e autorregras disfuncionais” (uma dificuldade em estabelecer um equilíbrio funcional entre comportamento governado por regras e comportamento modelado pelas regras que produz); ou “Rita está quase sempre irritada e tem comportamentos agressivos sempre que é contrariada; apresenta baixa tolerância à frustração”; ou “Rodolfo tem uma história de contingências de privação de afeto e é vulnerável nas relações interpessoais; está sempre se comportando da maneira que produz atenção (ou afeto, ou carinho...) arbitrária em relações fugazes e frustrantes”; etc. etc. (As formulações apresentadas como exemplos parecem absolutas, o que raramente ocorre. Foram assim redigidas para facilitar uma compreensão mais didática. É mais provável que uma mesma pessoa possua, em densidades variadas, todas as características assinaladas.)
O texto acima foi escrito sob controle de um artigo de Roberto Pompeu de Toledo, cujo trecho reproduzo abaixo:
A vida não é um romance! Tampouco é uma viagem (a menos que usemos o termo como metáfora)! O termo psicoterapia não é apropriado para nomear nossa atividade. Não tratamos pacientes; não curamos doentes mentais, nem doentes psicológicos. Todos os termos grifados têm origem no modelo médico, que foi adotado sem reservas desde o início da história da atividade denominada psicologia clínica ou psicoterapia. O modelo que adotamos é psicológico. Como tal, nossa tarefa não é curar, mas prover o desenvolvimento comportamental (e afetivo) das pessoas. Assim sendo, a psicoterapia (volto a usar o termo tradicional) – conforme a concebemos – tem início, tem muitos meios e não tem fim. O desenvolvimento humano só se encerra com o colapso do organismo.
“Houve um tempo, raciocina o professor Ricardo Morante, em que era obrigatório fazer tudo numa grande ordem. ‘As coisas, por exemplo, começavam todas pelo começo e acabavam pelo fim.’ O professor Morante é um personagem de ficção. Figura no romance Doutor Pasavento, do catalão Enrique Vila-Matas. O tempo em que as coisas tinham começo e fim é localizado por Morante na década de 70 – a de sua mocidade. Não lhe custou muito compreender que se tratava de uma ilusão. Não há histórias acabadas. Isso é uma invenção da literatura. ‘A literatura’, explica Morante, ‘consiste em dar à trama da vida uma lógica que não existe. Na minha opinião, a vida não tem trama, nós é que a acrescentamos, quando inventamos a literatura.’”
“As considerações de Morante ocorrem durante diálogo com o narrador do livro, o ‘Doutor Pasavento’ do título. São ambos escritores. Morante conta ‘que o filme de sua vida’ é Viagem à Itália, de Roberto Rosselini. E isso porque a história se abre com um diálogo que já vai avançado entre um casal (Ingrid Bergman e George Sanders). O espectador tem a impressão de ter entrado no cinema no meio da sessão. ‘Com essa primeira sequência’, diz Morante, ‘creio que Rosselini estava consciente de que, já que a vida é um tecido contínuo e qualquer princípio é arbitrário, uma narração pode começar num momento qualquer, na metade de um diálogo, por exemplo.’”
“O Doutor Pasavento não só concorda como lembra que não é por outro motivo que a literatura começa com relatos de viagem. Na Antiguidade, ‘não se sabia ainda o que era contar uma história, mas se sabia perfeitamente o que era uma viagem’. Ela fornecia a ‘trama ideal’, porque, ‘se havia uma coisa que tinha um começo e um fim, essa coisa era a viagem’. Daí a Odisseia, de Homero, que conta a atormentada viagem de Ulisses de volta para casa. ‘As viagens tinham um começo e um fim. Isso punha uma ordem nas coisas se a gente quisesse contar uma história e demarcá-la de forma que começasse e terminasse.’”
 

quarta-feira, 9 de março de 2011

Para pensar...3

"Discriminar aquilo que sentimos e falar sobre isso (sentimentos) são comportamentos aprendidos, produtos da comunidade verbal que nos ensina a descrever o que fazemos, o que pensamos e o que sentimos (Skinner, 1991)"


terça-feira, 8 de março de 2011

Maconha aumenta o risco de psicose

Pessoas que consumiram maconha na adolescência ou no início da vida adulta enfrentam maior risco de apresentar sintomas de psciose mais tarde, afirma um estudo recém-divulgado.

A pesquisa, realizada pelo professor Jim van Os, da Universidade de Maastricht, da Holanda, foi feita na Alemanha, e contou ainda com pesquisadores da Suíça e da Grã-Bretanha.
A psicose é uma desordem mental na qual o indivíduo perde o contato com a realidade.
O estudo, publicado na revista especializada British Medical Journal, acompanhou um total de 1.923 pessoas ao longo de um período de dez anos
Apesar de as relações entre maconha e psicose já serem conhecidas, ainda não estava claro se era a maconha que desencadeava os sintomas dessa condição ou se as pessoas se sentem propensas a consumir a droga devido a seus sintomas. A pesquisa indica que a primeira hipótese é a mais provável.
Estudo
Os participantes da pesquisa tinham entre 14 e 24 anos. Eles foram avaliados em períodos distintos para aferir possíveis relações entre o uso de maconha e de manifestações de sintomas psicóticos.
O primeiro período estudado foi feito três anos após o início da pesquisa. A segunda amostragem ocorreu oito anos depois que a pesquisa começou. E a conclusão ocorreu dez anos após o começo do estudo.
Os pesquisadores colocaram os que já fumavam maconha em um grupo e excluíram os que apresentavam um quadro pré-existente de psicose, para que pudessem melhor estabelecer as ligações entre novos usuários de maconha e a apresentação de sintomas da doença.
A pesquisa também teria mostrado que aqueles que já fumavam maconha na época do começo da pesquisa enfrentariam riscos mais elevados de apresentar sintomas psicóticos persistentes.
Aumento
O estudo concluiu que o uso de maconha aumenta ''significativamente'' a incidência de sintomas psicóticos, mesmo quando outros fatores, como situação sócio-econômica, o uso de outras drogas e de condições psiquiátricas estão em jogo.
Além de afiramrem que o uso da maconha +e um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas psicóticos, os cientistas envolvidos com a pesquisa disseram também que ''o uso repetido de maconha pode aumentar o risco de sofrer desordens psicóticas por ter impacto na persistência dos sintomas
De acordo com Robin Murray, professor de pesquisa psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria da Grã-Bretanha, a pesquisa representa ''mais um tijolo no muro de provas'', de que o uso da maconha contribui para formas de psicoses como a esquizofrenia.
Segundo Murray, a pesquisa é um dos dez estudos similares que apontam nessa mesma direção.

Original disponível no blog da UNIAD clique aqui.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Qual é a importância dos sentimentos na Análise do Comportamento?

Texto de Jan Luiz Leonardi
 Os sentimentos são, em certo sentido, a marca distintiva do objeto de estudo do psicólogo e, em especial, do psicólogo clínico. A literatura sobre psicoterapia nas mais diversas abordagens, incluindo a psicanálise, o psicodrama, a psicoterapia cognitiva, a daseinsanálise, a gestalt-terapia, entre outras, é enfática no que diz respeito ao papel fundamental que os sentimentos exercem no trabalho terapêutico. Entretanto, para muitos psicólogos e estudantes de psicologia, o papel dos sentimentos na terapia comportamental parece não ser claro, uma vez que ainda é muito comum ouvir que as emoções não são consideradas pelos behavioristas, o que é um grande equívoco. Por isso, o objetivo deste texto é explicitar o lugar dos sentimentos na filosofia do behaviorismo radical e na terapia analítico-comportamental.
O Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento foram vistos ao longo da história, algumas vezes por mera ausência de informação e outras por severa desinformação, como um sistema psicológico com filosofia, conceitos, métodos e práticas absolutamente diferentes da proposta original de Skinner.
Com efeito, este autor aponta, na introdução de seu livro Sobre o Behaviorismo, vinte afirmações errôneas acerca da psicologia comportamental. Notavelmente, a primeira delas é “o Behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais” (SKINNER, 1974/1995, p. 7).
A afirmação supracitada talvez seja proveniente de uma confusão conceitual entre o Behaviorismo Metodológico, fundado por John B. Watson, e o Behaviorismo Radical, de B.F. Skinner. A proposta de Watson era estudar somente o comportamento publicamente observável, ignorando, por exemplo, a consciência e os sentimentos. Skinner, por outro lado, rejeita esta concepção e propõe que todo comportamento, aberto ou encoberto, deva ser objeto de estudo. Assim, apesar das respostas encobertas (por exemplo, as manifestações corporais correspondentes a um sentimento) possuírem acessibilidade limitada (pois são diretamente acessíveis apenas pelo organismo que as experiencia), elas não deixam de ser, de forma alguma, objeto de investigação. É importante observar que, embora os sentimentos sejam inacessíveis a observadores externos porque estes não estão em contato com aquele ambiente, isto não significa que os comportamentos encobertos possuam qualquer natureza especial, isto é, eles não são entidades mentais abstratas (MATOS, 2001).
Na medida em que apenas o sujeito que sente é capaz de observar seu sentimento, uma questão que se coloca é: como o terapeuta tem acesso ao que o seu cliente/paciente sente? O acesso aos sentimentos na terapia analítico-comportamental, entendida como a aplicação dos princípios da Análise do Comportamento na situação clínica, ocorre através do relato verbal do cliente/paciente para seu terapeuta e de comportamentos públicos não-verbais correlatos aos sentimentos, como, por exemplo, o enrubescimento provocado por um assunto delicado.
Contudo, é importante observar que o cliente/paciente será capaz de falar somente sobre aquilo que aprendeu a sentir e a descrever, aprendizado este que ocorreu através de contingências organizadas pela comunidade em que ele está inserido. Em poucas palavras, discriminar e relatar aquilo que se sente são comportamentos aprendidos na vida em sociedade. (SKINNER, 1953/2003; SKINNER, 1974/1995).
Segundo Skinner, as reais causas do comportamento provêm das contingências de reforçamento e não dos eventos internos, como os sentimentos. Por exemplo, é muito comum o cliente/paciente dizer para o terapueta que bateu porque estava com raiva ou que chorou porque estava triste. Segundo a Análise do Comportamento, esta noção de causalidade é equivocada e, provavelmente, o sentimento costuma ser compreendido como a causa do comportamento porque ambos são temporalmente muito próximos. Na verdade, eu não choro porque estou triste, mas eu fico triste e choro ao mesmo tempo, devido à certas contingências de reforçamento, ou seja, porque algo aconteceu (SKINNER, 1989/2005).
Neste sentido, Skinner, em diversos momentos de sua obra, aponta uma correlação entre os sentimentos e os diversos tipos de contingências em vigor. Portanto, os sentimentos não são oriundos de uma vida mental, mas são subprodutos das contingências de reforçamento, sendo que mudanças nestas contingências alteram aquilo que o indivíduo sente (SKINNER, 1989/2005). Em poucas palavras, os sentimentos são estados corporais, como alterações no ritmo cardíaco, na pressão sanguínea e na frequência respiratória, produtos da interação que ocorre entre a pessoa e o mundo.
Com isto, podemos perceber que os sentimentos são fundamentais em uma intervenção psicológica com base analítico-comportamental, uma vez que fornecem informações preciosas sobre as contingências de reforçamento às quais o cliente/paciente está submetido. Conseqüentemente, a tentativa de mudar padrões de sentimentos no ambiente clínico é estéril, uma vez que eles são subprodutos das interações do organismo com o mundo. Desta forma, como já mencionado, somente mudanças na relação do indivíduo com o ambiente podem alterar seus sentimentos.
Em conclusão, o Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento asseveram que os sentimentos são respostas encobertas que, apesar de não serem publicamente observáveis, são fundamentais para a compreensão do homem. Nas palavras de Skinner, “como as pessoas se sentem é frequentemente tão importante quanto o que elas fazem” (SKINNER, 1989/2005, p. 13).

Referências:
MATOS, M.A. (2001). O Behaviorismo Metodológico e suas relações com o mentalismo e o Behaviorismo Radical. In: BANACO, R.A. (org.). Sobre comportamento e cognição, v. 1. Santo André: ESETec.
SKINNER, B.F. (1953/2003). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.
SKINNER, B.F. (1974/1995). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix.
SKINNER, B.F. (1989/2005). Questões recentes na análise comportamental. São Paulo: Papirus.
* Agradeço à Profa Dra Maria Martha Costa Hübner pelas sugestões e revisão deste texto.

domingo, 6 de março de 2011

Indicação de livro

Terapia Cognitivo-Comportamental para os transtornos de ansiedade - Gildo Angeltti - Casa do Psicólogo


A partir de 1990, os estudos sobre tratamento não-farmacológico da ansiedade cresceram muito entre os cientistas brasileiros A TCC demonstra ser a melhor ou a única forma de psicoterapia; publicações nacionais e internacionais comprovam seus resultados satisfatórios em comparação com outras formas de psicoterapia e terapia medicamentosa.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Uma Fábula

Recentemente descobriu-se que Daniel Defoe não contou toda a história sobre Robinson Crusoé, provavelmente porque pensou que não acreditariam nele. O fato é que, através da operação de um tipo de máquina do tempo wellsiana, Crusoé acordou numa manhã e encontrou um jipe moderno em sua ilha. Estava em muito bom estado e tinha um inesgotável tanque de gasolina. Naturalmente ele investigou muito cuidadosamente, puxando e empurrando alavancas, girando e pressionando botões. Quando ele ligou a ignição o motor começou a funcionar e ele apressadamente desligou. Ele ligou e desligou várias vezes. Uma vez, quando ele ligou, o jipe estava engrenado e pulou para frente. Assustado, ele rapidamente desligou. Em outro dia o jipe não pulou. Finalmente, o jipe modelou e manteve tudo o que Crusoé precisava fazer (não “saber”) (not “to know!”) para dirigi-lo habilidosamente por todas as partes desmatadas da ilha. Ele “sabia como dirigir um jipe” (knew how to drive) simplesmente no sentido de que ele fazia as coisas certas no momento certo.
Quando Sexta-Feira chegou à ilha, Crusoé o ensinou a dirigir. Uma vez que Sexta-Feira não falava inglês, Crusoé podia apenas apontar as partes do jipe e mostrar o comportamento para Sexta-Feira imitá-lo. Ele ligou e desligou a ignição e Sexta-Feira fez o mesmo e ouviu o motor começar e parar. Ele ligou, apertou o pedal da embreagem e pôs o jipe em marcha; Sexta-Feira finalmente fez o mesmo e sentiu o jipe mover-se. Finalmente Sexta-Feira também dirigiu habilidosamente. Crusoé não “comunicou informação” ou “partilhou conhecimento”; ele simplesmente mostrou comportamentos que, quando imitados por Sexta-Feira, foram reforçados pela ação do jipe. Sexta¬-Feira então também “sabia como dirigir” (knew how to drive), mas, novamente, simplesmente no sentido de fazer todas as coisas certas.
Quando o navio de salvamento chegou, aconteceu de Crusoé estar do outro lado da ilha e não o ver, mas o capitão encontrou Sexta-Feira, viu o jipe e ficou curioso a seu respeito. Sexta-Feira começou a mostrar-lhe como dirigir. Como não falava inglês, ele podia ensinar o capitão somente como Crusoé lhe havia ensinado, apontando e mostrando. Crusoé logo chegou e assumiu a tarefa. Ele apontou as partes do jipe, como fizera com Sexta-Feira, mas ele também podia chamá-las pelos nomes mais próximos em inglês e usar palavras como girar, ligar, empurrar e puxar. Ele podia dizer ao capitão o que acontecia quando as coisas eram feitas. “Quando você gira este botão na base direção algo na carroça faz um barulho, mas não o gire a menos que o bastão com a bola em cima esteja reto.” Em outras palavras, ele podia descrever as contingências de reforçamento mantidas pelo jipe e, respondendo a estas descrições e instruções, o capitão ficou sob controle do jipe mais rapidamente do que Sexta-Feira ficara. Enquanto para Sexta-Feira Crusoé mostrou como dirigir, para o capitão ele podia dizer. Finalmente o capitão dirigiu não por responder às instruções, mas porque o jipe modelou e manteve seu comportamento. O capitão então “sabia como dirigir” (knew how to drive), mas novamente simplesmente no sentido de fazer as coisas certas no momento certo. Nada passou de Crusoé para o capitão na forma de conhecimento ou informação.
Crusoé também falava para si mesmo quando estava primeiro explorando o jipe. Ele podia dizer, como disse para o capitão: “quando você gira este botão na base da direção, algo na carroça faz barulho.” Ele não estava dizendo a si mesmo para fazer algo que já não tivesse feito (não “conhecido!”); ele estava estimulando seu próprio comportamento mais do que gerando seu comportamento. Suas respostas às suas próprias descrições das contingências se fundiram com respostas modeladas pelas contingências e a combinação mais rapidamente atingiu uma força útil. Crusoé também podia falar sobre o jipe quando estava longe dele. Deitado na cama à noite ele podia dizer: “a carroça se moveu somente quando alguma coisa na parte da frente estava fazendo barulho”, e também: “só fez barulho quando eu girei o botão”. Estas duas respostas juntas devem tê-lo auxiliado a movimentar o jipe mais suavemente na próxima vez que o fez. Deitado na cama, Crusoé podia também ver o jipe como ele o via quando estava nele, embora de forma muito menos clara. O que ele estava fazendo não é tão fácil de dizer, em parte porque os analistas do comportamento não têm prestado muita atenção ao ver na ausência da coisa. Em algumas discussões exaustivas em epistemologia, Pere Juliá e eu achamos útil tratar o sentir ou o perceber simplesmente como uma parte inicial do responder, “como o responder até o início da ação”. Ver um objeto quando ele não está presente é fazer novamente o que foi feito quando ele estava presente. Isto pode ser feito quando nenhuma ação se segue e sem fazer ou usar cópias do que é visto. Crusoé podia também sentir ele próprio girando botões e ouvindo barulhos até o início da ação. O comportamento verbal encoberto tem sobre o comportamento não verbal encoberto a vantagem de poder ser executado mais completamente. Falar para si mesmo é um tipo de ação. Se Crusoé tivesse escrito uma descrição de contingências teria sido ainda mais útil. Escrever auxilia o comportamento verbal, assim como fazer um esboço auxilia a visualizar.
Crusoé podia também ter dado a si próprio o tipo de ajuda que deu para Sexta-Feira. Há contingências que fortalecem um tipo de auto-imitação. Se quando movemos alguma coisa em nossa escrivaninha, alguma coisa a alguma distância se movimenta, é provável repetirmos o movimento e esperarmos pelo efeito, como se nos perguntássemos: “eu fiz isto?” Se nada acontecer, vemos que a conseqüência foi acidental. Se a mesma coisa acontecer, confirmamos nosso movimento do objeto distante como um operante no sentido literal de tornar firme ou fortalecer. Comportamentos similares são algumas vezes vistos em outros primatas. Um movimento é feito, uma conseqüência não usual se segue e o movimento é imediatamente repetido. As contingências de sobrevivência responsáveis pela evolução de tal auto-imitação, entretanto, são muito diferentes das contingências operantes. A superioridade das descrições autocompostas de contingências sobre a auto-imitação é presumivelmente uma das razões pelas quais as línguas evoluíram e pelas quais são transmitidas de geração a geração como ambientes sociais ou culturas.

B. F. Skinner. (1988). A Fable. The Analysis of Verbal Behavior, 6,1-2. (Tradução de Maria Luisa Guedes, para uso pessoal)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Quando o medo atrapalha o dia-a-dia

As fobias não são um traço de personalidade. E elas trazem inúmeros prejuízos, dos relacionamentos à vida profissional

O favorito ao Oscar 2011 é o filme O Discurso do Rei. A história, verídica, é a do monarca britânico George VI. O monarca sofria de um problema que afetava sensivelmente o exercício de suas atribuições: George VI era gago, o que lhe provocava pavor a cada discurso. Sobretudo diante de um público grande, o pai da rainha Elizabeth II via-se tomado por uma ansiedade crescente. Chegava a emudecer por completo.
Um caso, enfim, daquilo que seria considerado hoje fobia social, uma das três grandes categorias de fobia. Medo exagerado de falar a uma plateia, de conceder uma entrevista, de comer sozinho num shopping ou de preencher um cheque diante de outra pessoa, por exemplo, são características comuns da condição. Os prejuízos podem ser numerosos. Basta pensar no sujeito que necessita conduzir reuniões no trabalho ou expor seminários na faculdade. Há quem desista do emprego, dos estudos, prefira a reclusão.
O psicólogo Gildo Angelotti, diretor-executivo do Instituto de Neurociência e Comportamento de São Paulo, explica que existe uma diferença essencial entre timidez e fobia social. “O tímido, apesar de ser assim, quer participar, interagir. O fóbico, não. Ele se sente ameaçado.”
Fóbicos sociais temem não o outro, mas a avaliação do outro. “Ficam ansiosos, têm sintomas físicos de ansiedade”, observa o psiquiatra Geraldo Possendoro, professor do curso de especialização em medicina comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Dentre sintomas de que ele fala, e que se manifestam nas outras fobias além da social, estão taquicardia, transpiração excessiva, tremor, respiração ofegante.
Fobia vem do termo grego phobos. Quer dizer medo. Na prática, significa terror, um medo exagerado de uma situação, de um objeto, de um animal, de pessoas. Tecnicamente, as fobias são divididas em três tipos: a citada fobia social, a agorafobia (medo de espaços abertos) e as fobias específicas. Estas são as mais comuns. Existem em enorme quantidade: medo de bicho, de altura, de agulha, de sangue, de avião, de dirigir. Ou de palhaço, e quem viu o Big Brother Brasil no último dia 5 acompanhou uma demonstração.

A participante Janaína desesperou-se ao ver um colega fantasiado.


Pois a professora Tiari de Magalhães Gomes Rodriguez Farias, de Piracicaba (SP), preferiu não ver. Ao verificar que a festa do reality tinha gente com maquiagem e motivos circenses, trocou de canal. “O primeiro episódio de que me lembro de ter medo de palhaço foi com cinco anos de idade. Fiquei nervosa, foi bem feio. Meu pai teve de me tirar de casa”, recorda.
Dois anos atrás, quando era coordenadora pedagógica de uma escola de idiomas, Tiari organizou uma excursão para um parque de diversões. Por mais que tivesse necessidade e vontade, se viu obrigada a desistir de acompanhar as turmas. “Os pais estavam confiando em mim e perguntavam ‘Mas por que a coordenadora não vai?’. Tive de explicar ao dono da escola, depois de muita pressão, de relutar bastante. Não foi muito bem visto. Saí prejudicada.”
Tiari não viajou, preocupada em ver se repetirem ocorrências que ela enfrenta sempre que vê um palhaço na rua. Busca abrigo imediatamente. O coração acelera, a mão fica gelada. “Só dá vontade de sair de perto. Se ficar no lugar, vai faltando o ar.” Ao tomar conhecimento do ocorrido no Big Brother, pensou: “Ela [a participante] tem a mesma coisa que eu, não sou tão louca como pensava”.
Medo x Fobia
Não há nada de errado com o medo em si. Trata-se de uma emoção fundamental: nós vingamos como espécie porque sentimos medo. Se ele não existisse, estaríamos sempre nos submetendo a riscos, em circunstâncias que talvez custassem nossa sobrevivência e evolução. Em doses exacerbadas, contudo, ele passa a ser restritivo. É a fobia. Que pode desencadear ataques de ansiedade. Assim acontece com Tiari e assim acontecia com a engenheira Neiva Maria Piloni, de Curitiba (PR).
A sua fobia era de dirigir. Era, porque após um tratamento específico Neiva julga-se apta a conduzir o automóvel. Em 1997, habilitada e com pouca experiência ao volante, ela foi de carro apanhar as filhas na escola. Ao retornar para casa, conheceu a primeira crise. “Não sentia as pernas, os braços, tremia. E veio aquele choro excessivo. Não sabia que isso existia.”
A psicóloga Neuza Corassa, fundadora do CPEM (Centro de Pesquisa e Estudos do Medo) e autora do livro Vença o Medo de Dirigir – Como superar-se e conduzir o volante da própria vida, diz ser habitual a pessoa com fobia de dirigir ter passado de primeira no exame de habilitação. “Mas ela é muito exigente, quer dirigir como alguém que está no trânsito há muito tempo. E então deixa de fazer. É onde o medo cresce, torna-se excessivo. Existe ainda o medo do que os outros vão falar. Vira fobia”, aponta.
A “Síndrome do Carro na Garagem”, expressão criada pela psicóloga, fazia Neiva ter dificuldade na realização de tarefas simples, e ela se sentia “inferiorizada, incapaz”. Uma vez solucionada a questão, conta que o fato passar a dirigir trouxe benefícios de autoestima e profissionais.
Outra fobia comum dentre as específicas, lista Neuza, é a de avião, que, segundo ela, vem se revelando com mais frequência, devido . Mais gente no aeroporto significa mais gente descobrindo a fobia. No que têm contribuição os acidentes aéreos.
O gerente de projetos Fernando Dib, de São Paulo (SP), já sabia o que era fobia de avião – ela vinha desde a infância – quando se deu um sério episódio de ansiedade, em 2006. A aeronave em que ele havia embarcado estava na pista, em movimento, pronta a decolar. Fora de controle, Fernando pediu que o avião parasse. Depois de infrutíferas tentativas da aeromoça na intenção de acalmá-lo, a tripulação reconheceu que o desembarque parecia o mais adequado. “Saí e veio aquela sensação indescritível de derrota, de não conseguir me controlar. E o pessoal do voo em ‘pânico’, sem entender.” Ele deixou bagagem, documentos, dinheiro e chave de casa no avião. Só pegou de volta uma semana adiante, com regresso da então namorada, que seguiu viagem.
Origem e Tratamentos
O psiquiatra Geraldo Possendoro considera que as fobias específicas usualmente têm origem em traumas. Embora nem sempre de infância, é nessa fase da vida que costumam acontecer. A agorafobia (que, no limite, faz o fóbico deixar de sair de casa, com medo de crises), ele avalia, quase sempre está associada a crises de pânico. Já para fobia social o médico entende que as causas são mais difusas. “Pode ser que haja uma vulnerabilidade biológica, pode ser genético. Na minha avaliação, vejo que a maioria dessas pessoas foram muito desqualificadas na infância, em relações de pouco afeto.”
O tratamento das fobias varia, assim como a duração. Especialistas recomendam terapia, por meio da qual o paciente, no seu ritmo próprio e adequado, passa por um processo de enfrentamento. Em certos casos, receitam-se medicamentos. Sempre de acordo com o estabelecimento de um diagnóstico, com critérios técnicos. Se a pessoa tiver, de fato, fobia – se há esquiva de situações, limitação, perdas, um transtorno de ansiedade –, então já não está se falando daquele medo indispensável à vida.
Torna-se algo capaz de fazer alguém pensar (ainda que involuntariamente) em não assumir o trono, como aconteceu com George VI. Ele não se achava capaz, e a fobia social tinha parte nesse sentimento de recusa. A mesma fobia social, cita o psicólogo Gildo Angelotti, que atinge 11% dos brasileiros – mais de 20 milhões de pessoas.



terça-feira, 1 de março de 2011

Qualidade de vida - cursos

Melhore a sua qualidade de vida, aprenda habilidades que o tornarão mais funcional na sua rotina diária.

- Mês de Março - Dia 26 das 9.00 as 16.00

Conseguir ‘dizer não’ é uma arte, saiba como atingir seu objetivo.

Objetivo: Desenvolver uma comunicação afirmativa, objetiva e eficaz, proporcionando maior satisfação nas situações e nas relações.

Conteúdo Programático:
• Comportamento na Comunicação: passivo, assertivo e agressivo
• Objetivos pessoais x objetivos do outro
• Como se comportar em situações sociais: fazer uma reclamação, uma solicitação, aceitar um elogio, recusar um convite
• Crenças relacionadas à aprovação social

Docente: Karen Camargo - Mestranda da USP - Autora do livro - Fada Helena Boazinha
Investimento R$ 600,00
Inscrições por telefone (11) 3259-1291
Local: Rua do Rocio 288

- Mês de Abril - Dias 5,12 e 26 das 19:30 às 22:30

Cuidar e ser cuidado: como lidar com o doente e ter uma vida saudável?

Objetivo: Auxiliar o cuidador de um familiar/amigo doente a desempenhar esta função sem se sobrecarregar e ainda ter uma vida prazerosa e saudável.

Conteúdo Programático:
• Habilidades do cuidador
• Preservando a relação cuidador – doente: o segredo para um relacionamento saudável
• Evitando a sobrecarga: como conciliar as tarefas diárias exigidas pela função com atividades prazerosas
• Impondo limites: o tênue limiar entre a delícia e a frustração de ser cuidador
• Lidando com o estresse
• Ser cuidador: pontos positivos e qualidades da profissão

Docentes: Silvia Sztamfater – Dra em Ciências da Saúde pela Santa Casa de São Paulo
                     Claudia Camargo - psicóloga do GREA – HC FMUSP
Investimento R$ 600,00
Inscrições por telefone (11) 3259-1291
Local: Rua do Rocio 288

- Mês de Junho - Dias 2, 9 e 16 das 19.30 as 22.30 (TURMA 1)
                          OU 02 de Julho DAS 9.00 AS 16.00 (TURMA 2)

Relacionamento amoroso: como conviver mais e melhor com seu parceiro.

Objetivo: Auxiliar os participantes a se perceberem melhor nas relações afetivas, adotando uma postura mais flexível e socialmente habilidosa, proporcionando melhora na comunicação e na percepção errônea do outro.

Conteúdo Programático:
• Habilidades Sociais para um melhor relacionamento
• Comunicação
• Flexibilidade
• Crenças sobre relacionamentos e pré-concepções

Docente: Mariângela Gentil Savoia - Dra. em Psicologia Clínica pelo IP-USP
Coordenadora de cursos do Programa Ansiedade (AMBAN) - Professora - NEC - USP
Investimento R$ 600,00
Inscrições por telefone (11) 3259-1291
Local: Rua do Rocio 288

Maiores informações: www.conscientia.com.br

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