Memória é um termo. Não é um fenômeno comportamental. Pode-se, porém, dar o nome de memória a determinada classe de fenômeno comportamental. Usa-se o termo memória nas condições em que o SD, sob o qual a resposta discriminativa foi instalada e que usualmente evoca tal resposta específica, não está presente no momento em que a dada resposta é emitida. Por exemplo, após ler repetidamente uma poesia, a pessoa a verbaliza corretamente na ausência do texto. Diz-se, então, que ela tem "boa memória". O fenômeno comportamental consiste em emitir a resposta na ausência do SD textual, tendo havido exposição prévia à seguinte contingência:
1. a. instrução verbal, tal como: "João, quero que você decore e declame esta poesia na festa do dia das mães. Você topa?";
2. b. exposição ao texto da poesia;
3. c. emitir a resposta de leitura sob controle dos SDs textuais (poesia escrita) e repetir unidades (arbitrárias, tais como uma palavra ou um verso, e assim sucessivamente), na ausência do SD textual até ocorrer o esvanecimento total (fading out) do texto e a pessoa verbalizar a poesia toda;
4. d. conseqüência social, potencialmente reforçadora (Sr+) contingente à emissão, sob tais condições, de unidades progressivamente maiores do texto a ser memorizado... até a recitação total da poesia.
A emissão da resposta oral na ausência do SD textual coloca uma questão: o que controla, ou seja, qual é o antecedente da resposta? Pode-se propor duas alternativas:
1. a. a pessoa vê (e conseqüentemente lê) o texto na ausência do texto (na linguagem cotidiana diz-se que ela imagina, isto é, produz uma imagem do texto). Está, portanto, sob controle de SDs encobertos produzidos pela própria pessoa);
2. b. a verbalização da pessoa é uma cadeia de comportamentos na qual a palavra que antecede a palavra emitida tem função de SD para a emissão da palavra verbalizada, e a palavra que se segue a ela tem função de conseqüência reforçadora positiva para a resposta emitida.
O procedimento típico para se investigar experimentalmente aquilo que se denomina de memória é o de comparação ao modelo (matching-to-sample), no qual o estímulo modelo é apresentado durante um tempo específico e, então, removido. Em seguida, são apresentados os estímulos de escolha. Cabe ao sujeito experimental emitir o comportamento de escolher o estímulo que se iguala ao modelo apresentado que não está mais presente. O atraso entre a remoção do estímulo modelo e a apresentação dos estímulos de escolha é uma das variáveis a serem investigadas.
Os fenômenos neurofisiológicos subjacentes que ocorrem durante a emissão da resposta, à qual se dá o nome de memória, não são objeto de estudo nem de análise ou de manejo do analista de comportamento, não obstante ele possa se interessar por tais fenômenos.
Que procedimentos podem melhorar a "memória"? Há várias possibilidades. Neste texto, vou me ater a um exemplo. Suponha que uma criança vai ao zoológico com o pai e se detém diante da gaiola dos macacos. O comportamento do garoto, de observar os macacos (de ficar sob controle dos macacos), pode ser ampliado com a ajuda do pai, se ele fizer comentários para o filho, tais como: "Veja, filho: o macaco está tirando a casca da banana... Agora, está comendo a banana. Ele faz como a gente!"; "Olhe como ele fica dependurado no galho pelo rabo, sem usar as mãos!" etc. O pai emite tactos verbais sob controle de ações e características do macaco e, com o auxílio de sua verbalização, (por exemplo, fazendo fading out da descrição daquilo que o macaco está fazendo e introduzindo questões tais como: "Olhe! O que ele está fazendo com as mãos?" etc.) altera gradualmente aquilo que controla o comportamento verbal do filho: transfere o controle exercido por sua própria verbalização para as ações do macaco. Espera-se que, com as deixas verbais do pai, o menino verá mais coisas na gaiola do que se o pai permanecesse em silêncio. O que seria apropriado ao chegar em casa (ou seja, na ausência do macaco)? Que a criança fosse orientada a emitir respostas sob controle do macaco na ausência do macaco. Assim, por exemplo, pode-se dizer para o filho: "Conte para a mamãe o que você viu no bosque." (espera-se que a mãe olhe para o filho e aumente a probabilidade de ele narrar o que viu: "Oba, filho! Conte para a mamãe quem estava o bosque.") É uma maneira de treinar a "memória", ou seja, de emitir a resposta na ausência do SD original (no presente exemplo, as ações do macaco). Caso a criança tenha dificuldades de iniciar a verbalização, o pai pode auxiliá-la, dividindo o episódio observado em unidades menores, tais como: "Quem estava dentro da gaiola?"; "O que o macaco estava comendo?"; "Com que parte do corpo se dependurou no galho?" etc. Se o procedimento descrito for usado sistematicamente, o repertório de narrar eventos observados na ausência deles irá se ampliar e poderá ser evocado com questões bastante genéricas (por exemplo, "Como foi seu dia, filho?"), as quais poderão produzir relatos verbais detalhados e extensos sobre eventos que ocorreram há horas, até mesmo dias, que antecederam a narrativa.
O fenômeno comportamental, ao qual se atribui o termo "memória", abrange diversas classes comportamentais: descrever um evento passado, repetir nomes e datas, declamar trechos literários, dizer tabuadas etc. etc. As estratégias para levar uma pessoa a emitir respostas "memorizadas" também são variadas. Assim sendo, o leitor pode, a partir do exemplo apresentado, certificar-se de que existem análogos ao aqui apresentado para desenvolver a "memória" (consistente com a definição do termo proposta no início do texto) em diferentes contextos, com múltiplas classes de respostas, utilizando várias estratégias técnicas.