segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um "bom" menino pode ser influenciado por um “mau” menino?

Podemos dizer que um amigo pode sim “desencaminhar” o outro, mas mais importante do que apontar, dizer que um amigo é má companhia para seu filho, é entender o porquê isso está acontecendo. Por exemplo, um adolescente que está inserido em um grupo de amigos que transgride leis sociais será imediatamente reforçado por eles (será acolhido, receberá elogios, terá uma função no grupo, verá a chance de ser um líder) quando emitir algum comportamento dessa classe de “transgressão”, como agredir uma pessoa, participar de rachas, cometer um assalto, usar algum tipo de droga ilícita, entre outros. Porém, ter contato com esses amigos não é suficiente para o adolescente se tornar um transgressor, é preciso analisar as contingências que estão operando nesse caso. Considerando que comportamentos e sentimentos são frutos de contingências de reforçamento, é necessário entender que situações, eventos, companhias aumentam a probabilidade (antecedentes) de o adolescente emitir um comportamento inadequado (resposta) e o que está mantendo a emissão desse comportamento (conseqüente).
Em primeiro lugar é importante investigar as características da família, pois algumas questões podem influenciar a escolha do caminho percorrido pelo adolescente. Assim, podemos averiguar se a família é afetuosa, acolhedora, impositiva, permissiva, agressiva, entre outras características. Essas características podem nos mostrar que a família exerce um controle muito rígido sobre o adolescente que acabou desenvolvendo um repertório inassertivo e, conseqüentemente, não soube dizer “não” para os amigos que o estavam incentivando a cometer alguma transgressão, por exemplo. Ou, pelo contrário, uma família muito permissiva que nunca impôs limites para o adolescente, que sempre pode fazer tudo o que queria, sem nenhuma restrição, aumenta a probabilidade de o jovem se aventurar por caminhos perigosos, sem avaliar e nem se responsabilizar pelas consequências danosas de seus atos (em geral, as consequências aversivas de um ato delinquente ocorrem com atraso considerável, enquanto que as consequências reforçadoras positivas, tais como aprovação e admiração dos membros do grupo, seguem-se imediatamente à emissão do comportamento).
Além disso, identificar a função desse comportamento também é fundamental para que o psicoterapeuta possa trabalhar com o seu cliente e sua família. Muitas vezes a função pode ser de contracontrole do adolescente perante o controle rígido exercido pela sua família. Na relação entre pais e filhos o controle é inevitável, porém o seu excesso pode ser prejudicial fazendo com que o controlado (adolescente) busque reforços que só estão disponíveis em outros ambientes, contextos (contracontrole), muitas vezes os conseguindo de formas inadequadas. É preciso entender o porquê o ambiente inadequado oferecido pelos amigos está sendo mais “reforçador” do que o familiar.
A família é o modelo de convivência mais importante no qual a criança é inserida desde quando ela nasce. É em um ambiente de afeto e limites que se espera que a criança desenvolva sentimentos de autoestima, autoconfiança, empatia, responsabilidade, tolerância à frustração. Além disso, é com a família que a criança aprende valores morais e padrões adequados de conduta que darão condições a ela de lidar com as influências que irá receber dos companheiros ou de outros ambientes que terá contato. Seguir os amigos, deixar-se influenciar por eles ou resistir a possíveis influências negativas do grupo social é o resultado da interação entre a influência familiar e a influência do mundo externo à família. Assim, um “bom” menino pode ser influenciado por um “mau” menino; mas o inverso pode prevalecer: o “bom” menino pode influenciar o “mau” menino.

Autoria do texto: Ana Regina Lucato Sigolo
  

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