quarta-feira, 4 de maio de 2011

Personalidades transtornadas (parte 2 de 7)

Caravaggio - O Psicopata


Infância briguenta, ficha policial gorda, assassinatos, dívidas, fama, título de nobreza e morte misteriosa. Sob a máscara de gênio da pintura barroca italiana e queridinho da Igreja, vivia um violento crápula, que, como 3% da população em geral, se encaixa no perfil de um psicopata.










 Caravaggio é tido como um dos maiores pintores italianos, reconhecido por introduzir uma nova estética naturalista e barroca, dominada por excessos e contrastes. Ótimo. Só que na época em que viveu, nos idos do século 16, ele era mais conhecido por ignorar completamente a vida alheia. Segundo suas biografias, o gênio da pintura tinha todos os traços do transtorno de personalidade antissocial - a famosa psicopatia. 
Arrogantes, mentirosos e irresistíveis. 
O que define o psicopata é a incapacidade de sentir emoções, de se colocar no lugar dos outros e internalizar regras sociais - uma mistura desastrosa que começa desde a infância e até hoje não tem tratamento. Sem sentimentos para distraí-los, psicopatas caem facilmente no tédio e, para combater isso, procuram viver impulsivamente grandes aventuras à custas dos outros - do seu dinheiro , do seu sexo ou mesmo da sua vida.
Para eles, o remorso é apenas uma curiosa fraqueza alheia que serve de ferramenta para suas manipulções. Não é de surpreender que 20% da população carcerária seja psicopata. Mas apenas a minoria dessas pessoas sem consciência são famosos matadores em série. Mais comuns são os canalhas do dia a dia - falsários, amantes canalhas, amigos parasitários ou escroques tão malvados quanto talentosos, como Caravaggio.
Psicopatas não têm ansiedade nem medo e, por isso, conseguem mentir sem tremer nas pontas. Analisam as pessoas até descobrir quais são os seus pontos fracos. Assim, sempre conseguem jogar uma boa lábia e, como camaleões sociais, parecer a pessoa ideal, seja  na hora de conquistar uma rapariga (ou um moçoilo), seja para tornar-se pintor papal. Depois de dar o bote, vivem como parasitas ou como predadores. Compromisso, só com o seu próprio prazer.
De que o pintor era um prodígio, ninguém duvida. O gênio começou a trabalhar com apenas 13 anos, como aprendiz de um pintor em Milão. Adolescente, tinha já perdido pai e mãe, mas não foi exatamente de tristeza que sofreu. Caravaggio era tão briguento que logo vendeu os bens da família para pagar fianças. Na bancarrota aos 18 anos, decidiu tentar a sorte em Roma. E, para ser visto como um menino prodígio, não economizou na mentira. Dizia ter dois anos a menos. Logo isso atraiu um mecenas, que o sustentou para pintar quadros provocantes (com insinuantes meninos seminus). Aos 25 anos, se deu bem de novo: começou a pintar para a Igreja e logo se tornaria o artista mais conhecido de Roma - nada mal para psicopatas, caracterizados pelo ego inflado e pela necessidade de status.
Só que outra característica desse transtorno é o vício em perigo. Mesmo em seus quadros religiosos, Caravaggio usava meretrizes para representar a virgem Maria e ladrões para os santos. Imagine sua satisfação ao saber que a corte papal estava recebendo a pintura de uma prostituta para ser adorada como santa. Caravaggio não se casou nem teve filhos - um escândalo para a época. Atrasava a entrega dos quadros e recebia multas. Mas era esperto: sempre que se metia em briga, tinha contatos para sair da prisão. Certa vez, alguém denunciou que suas obras para a Igreja eram impuras. Caravaggio desferiu um golpe de adaga no infeliz. Quase matou outro por ter dormido com sua prostituta preferida. Num jantar, o garçom não lhe deu suficiente atenção e ele lhe jogou um prato de alcachofras fervente na cara. E as coisas pioraram. Um dia quebrou a cabeça de um sargento. Mas jurou no julgamento que "uma pedra caíra de um telhado". Não demorou muito tempo na prisão: subornou os guardiões e fugiu com a ajuda de um cardeal. Até que assassinou um homem a punhalada numa briga.
Foi condenado à pena capital, mas fugiu para Malta, onde, para pôr a cereja em sua carreira psicopática, foi condecorado com o título de cavaleiro da Sagrada Ordem dos Hospitalários. Claro, se envolveu numa briga, foi preso, fugiu...até que, aos 39 anos, apareceu morto numa praia. Sua biografia já alcançara o estrelato. Para o bem e para o mal.     

 O que ele pensa: " Os outros estão aí para ser explorados"

















Fonte: Super Interessante - Ed. Especial Mistérios da mente

2 comentários:

  1. Interessante, só faltou uma análise de contingências mais explícita.

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  2. Vc tem toda razão...essas analises são retiradas da revista super Interessante, sua observação é bem interessante...boa dica..obrigada

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