São as unidades básicas de análise e compreensão dos comportamentos e sentimentos humanos e os instrumentos necessários e suficientes para influenciá-los.
Quando alguém observa o que uma pessoa faz (pode ser uma ação operante ou uma ação emocional ou afetiva), não consegue compreender o significado daquilo que observa. Uma pessoa corre, ou chora, ou fala seu nome, ou limpa um móvel, ou fica vermelha, ou grita, ou escreve... e daí? O significado de um comportamento não está na ação em si, mas naquilo que o determina. Uma resposta não é um comportamento. Para compreendermos uma ação e alçá-la ao status de comportamento, temos que relacioná-la com eventos antecedentes e eventos conseqüentes a ela, funcionalmente interligados. A unidade mínima para a compreensão de um comportamento chama-se tríplice contingência. Assim, se uma professora pede a um aluno de seis anos que dê um grito parecido com o do Tarzan (o pedido da professora é o evento antecedente), e Joãozinho grita, procurando imitar o Homem-Macaco (é a resposta), e a professora o elogia dizendo que ele tem pulmões de aço e a classe ri de forma aprovadora (conseqüências), então nós compreendemos por que Joãozinho gritou daquele jeito durante a aula. A resposta foi gritar, mas o comportamento poderia ter outro nome: obedecer ou atender a uma solicitação da professora. Se o grito ocorresse sem tais informações, poderíamos dizer que o comportamento de Joãozinho foi de bagunçar a aula, de agredir a professora, ou até poderíamos supor que estava apresentando um surto psicótico...
Contingências de reforçamento são unidades para análise e intervenção sobre os comportamentos e os sentimentos das pessoas. A contingência de reforçamento mais simples é composta por três termos, daí ser conhecida por tríplice contingência de reforçamento. (Existem outras mais complexas, compostas por quatro, cinco e mais termos.) As CR mostram as interações entre as pessoas e seu ambiente (físico e social).
O primeiro termo da tríplice contingência é o antecedente, o segundo é a resposta (da pessoa) e o terceiro é a conseqüência. Quando os três termos são conhecidos, e são determinadas as inter-relações entre eles (todos os três se influenciam reciprocamente e de modo dinâmico), pode-se dizer que comportamentos e sentimentos, por eles determinados, foram "explicados". Assim, por exemplo, como se explicam os comportamentos de um motorista num semáforo? Um evento antecedente (luz verde) estabelece a ocasião em que uma determinada resposta (avançar com o carro) terá conseqüências que manterão o comportamento de dirigir (chegar ao destino, por exemplo); por outro lado, um outro evento antecedente (luz vermelha) estabelece a ocasião em que a mesma resposta (avançar com o carro) terá uma conseqüência que enfraquecerá o comportamento de ir em frente (uma multa ou um acidente, por exemplo).
Podemos apontar um outro exemplo ilustrativo, mais complexo, da operação das CR na vida cotidiana. Uma pessoa relata que tem estado muito "ansiosa" (ela está, portanto, se queixando de um sentimento). O sentimento nomeado como "ansiedade" é produzido da seguinte maneira, de acordo com o paradigma de CR:
ANTECEDENTES - RESPOSTAS -> CONSEQÜÊNCIAS
ANTECEDENTES:
Um evento com função pré-aversiva, isto é, que sinaliza o aparecimento de um evento aversivo. Por exemplo, o ambiente de trabalho pode ser uma condição que adquiriu função aversiva, devido ao que ocorre nos dois itens seguintes (um ambiente de trabalho não é necessariamente aversivo; pelo contrário, pode ser agradável, desde de que os eventos dos dois itens seguintes sejam diferentes daqueles abaixo descritos). O antecedente é o ambiente de trabalho, portanto.
RESPOSTAS:
Ocorrem reações emocionais da pessoa e os comportamentos operantes emitidos na condição aversiva não alteram a condição adversa. Por exemplo: quando chega no trabalho, a pessoa passa a sentir estados corporais aversivos que ela nomeia de "ansiedade". Ao mesmo tempo, ela não sabe quais comportamentos profissionais e sociais deve emitir (apresenta um déficit comportamental naquela situação) para alterar as condições aversivas presentes no trabalho. Neste caso, portanto, não há nenhuma resposta operante funcional.
CONSEQÜÊNCIAS:
Eventos, em geral de natureza social, que têm função aversiva para aquela determinada pessoa, os quais ela não consegue evitar ou alterar. Por exemplo: um chefe autoritário, que está sempre criticando asperamente seu funcionário, sem que este tenha claro o que fazer para melhorar a relação profissional.
Diante do exposto, fica claro que a pessoa não é intrinsecamente ansiosa. São as contingências de reforçamento (no exemplo, apresentamos o paradigma comportamental que produz "ansiedade") que a tornam ansiosa. É de se esperar que em outros ambientes (com a família em casa, com os amigos em situações de lazer), ela não se sinta ansiosa, pois em tais outros contextos as CR não são produtoras de ansiedade.
Se as CR do trabalho forem intensas e contínuas, pode ocorrer uma generalização do estado de ansiedade para outros ambientes (aqueles que não produzem diretamente ansiedade), o tempo todo (a pessoa não consegue se "desligar" da condição de trabalho, mesmo em horário de descanso). Neste caso, as CR que não produzem ansiedade (produzem outros sentimentos, digamos, agradáveis) perdem sua função, devido à intensidade e à persistência das CR aversivas. Ocorre, então, uma ansiedade recorrente e generalizada (em geral, chamada de "neurótica"), a qual, se for muito intensa, pode dar origem à chamada "síndrome do pânico", que pode exigir tratamento médico e psicológico.
Qualquer exemplo de comportamento ou de sentimento, para ser corretamente analisado, deve ser expresso na forma de contingências de reforçamento.
O tratamento psicoterapêutico, no exemplo de ansiedade profissional apresentado, deve enfocar mudanças nas CR em operação. Alguns objetivos poderão ser elaborados pelo cliente com o psicoterapeuta, conjuntamente, tais como:
•a. desenvolver no cliente um repertório de comportamentos que lhe permita alterar as ações aversivas apresentadas pelo chefe na interação com ele;
•b. mudar de emprego, optando por um ambiente de trabalho mais justo e acolhedor;
•c. avaliar a origem da função aversiva dos comportamentos do chefe: são aversivos para pessoas de modo geral ou o são apenas para o cliente em particular, que lhes atribui uma função aversiva (não reconhecida pelos outros funcionários), decorrente de sua história de vida em particular?;
•d. desenvolver repertórios de comportamentos que gerem conseqüências reforçadoras positivas (gratificantes) no contexto de trabalho e, num sentido mais abrangente, também em outros contextos.
•e. etc..
O psicoterapeuta e o cliente decidem qual objetivo deve ser almejado. Para cada objetivo, haverá estratégias psicoterapêuticas específicas.
Como se pode constatar, o tratamento visa a alterar as contingências coercitivas em operação, substituindo-as por outras contingências reforçadoras positivas amenas. A pessoa, neste sentido, se torna um agente ativo do processo de mudança de seus sentimentos, na medida em que - com ajuda do psicoterapeuta - identifica e descreve as CR em operação, que geram ansiedade (torna-se consciente delas); altera tais contingências através da emissão de comportamentos (a mera consciência somente nos torna aptos para conhecer o que está determinando os sentimentos aversivos, mas não nos instrumentaliza para produzir mudanças; a pessoa precisa se comportar para alterar a realidade). Comportar-se é a única maneira de que a pessoa dispõe para influenciar o mundo em que vive.
Texto retirado de: http://www.terapiaporcontingencias.com.br/perguntas.html#03