Recentemente um jornal da cidade de Gramado/RS publicou que o Mindfulness esta sendo aplicado em alunos e como resultados observaram-se significativas mudanças no comportamento desses alunos, como por exemplo aumento da concentração, diminuição da agressividade e principalmente uma considerável redução do estresse.
O estresse é um tema bastante estudado e estratégias para redução de sintomas de estresse estão sendo investigadas. O Mindfulness é um procedimento novo que vem sendo aplicado ao contexto clínico e bastante utilizado para redução de comportamento respondentes como taquicardia, tremores, sudorese, dores de cabeça, dores abdominais (sintomas mais comuns do estresse).
Assim como os alunos estão se beneficiando desse procedimento, os professores também poderiam se beneficiar dela e assim exercer sua profissão com menos estresse.
Exercer a função de professor é uma atividade que exige certo grau de habilidade, preparo e conhecimento atualizado. Frente a estas exigências a profissão de professor é tida como uma das profissões mais estressantes.
Assim como aprendemos a emitir determinados comportamentos frente a estímulos específicos. O professor em sua profissão aprendeu que para ser bom em sua profissão deve manter o aluno atento e motivado. Ele se vê cercado de cobranças advindas da sociedade, da escola, dos pais de alunos e da própria exigência em se manter atualizado para responder às expectativas e necessidades de seus alunos. Os constantes desafios que o professor enfrenta para dar conta de suas atividades e que muitas vezes não são alcançados provocam sentimentos de impotência, desejo de fugir de tudo, culpa, cansaço, irritabilidade, nervosismo, desgaste físico e mental. Como consequência das pressões internas, das crenças e valores de cada um, encontramos professores mais vulneráveis ao estresse.
Professores estressados têm alunos estressados e consequentemente aprender torna-se aversivo. Aprender precisa ser algo reforçador, pois professores estressados não consegue elaborar aulas reforçadoras e consequentemente os alunos não se sentem reforçados para se manter em aula, gerando assim comportamentos de desatenção, mal comportamentos, entre outros. Daí a importância dos professores aprenderem a administrarem o estresse, pois assim podem servir como modelos adequados para ensinar aos alunos a administrar o estresse gerado pelas circunstâncias da vida.
Conceito de estresse
O conceito de estresse ou stress tem origem na Física, sendo entendido como o grau de deformidade que uma estrutura sofre quando é submetida a um determinado esforço. A partir desse conceito Selye (1970) define o estresse no homem como um conjunto de reações que o organismo tende a desenvolver ao se deparar com uma nova situação que exige um esforço para a adaptação. Pode-se dizer que o estresse representa uma ruptura no equilíbrio do indivíduo, que diante de uma determinada situação é impelido a mudar, a adapta-se a uma nova realidade, mesmo que ela tenha sido almejada. Essa ruptura no equilíbrio do indivíduo, exigindo dele alguma adaptação pode ser chamada de um estressor.
Os estressores podem ser classificados em estressores “biogênicos” ou externos, que são situações e eventos intrinsecamente estressantes, não dependem da interpretação e atuam automaticamente, como por exemplo, frio, fome, calor, acidentes, doenças, profissão; e estresssores psicossociais ou internos, que é tudo o que faz parte do mundo interno, das cognições de um indivíduo, seu modo de ver o mundo, seu nível de assertividade, suas crenças, seus valores, suas características pessoais, seu padrão de comportamento, suas vulnerabilidade, ansiedade e seu esquema de reação à vida.
Um estressor externo que esta recebendo atenção dos pesquisadores é o que se refere à profissão da pessoa, denominado de estresse ocupacional. Sabe-se que algumas profissões são mais estressantes do que outras, como por exemplo, a profissão de professor como citado anteriormente.
Kryacou e Sutchilffe (1978) e Moracco e Mafadalen (1982) citados por Reinhold (1996) definem o estresse dos professores como uma síndrome de respostas de sentimentos negativos, tais como raiva e depressão, geralmente acompanhadas de mudanças fisiológicas e bioquímicas potencialmente patogênicas, resultantes de aspectos do trabalho do professor e mediadas pela percepção de que as exigências profissionais constituem uma ameaça à sua auto-estima ou bem-estar. Esteve (1999) classificou os indicadores de mal-estar dos professores em dois grupos: primário e secundário. No primeiro grupo estão aqueles fatores que incidem diretamente na ação do professor e geram tensões associadas às emoções negativas. Para o autor, o processo de rápidas transformações do contexto social modifica radicalmente o papel do professor, aumentando de forma significativa suas funções e responsabilidades. A comunidade e a família passaram a atribuir à escola e à figura do professor funções que muitas vezes os professores não estão preparados para exercer. No segundo grupo, o dos fatores secundários, o autor destaca a falta de recursos pedagógicos (material didático, edifícios e móveis adequados) e a violência nas instituições escolares.
No Brasil os trabalhos mais conhecidos para o controle de estresse são os trabalhos de Marilda Lipp. As propostas de trabalho de Lipp enfocam o coping e manejo de estresse que tem como objetivos auxiliar o cliente a desenvolver e programar estratégias para modificar sua interpretação dos eventos estressores, emitir respostas apropriadas às situações estressoras, aprender a conviver com o estressor que não pode ser modificado para assim aumentar a qualidade de vida.
Conceito de Coping
Coping é um termo da língua inglesa que foi traduzido para o português como estratégias de enfrentamento, sendo compreendido como as habilidades que o indivíduo necessita para lidar e se adaptar as situações de estresse. Numa perspectiva cognitivista, Folkman e Lazarus (1980) propõe um modelo que divide o coping em duas categorias funcionais: coping focalizado no problema e coping focalizado na emoção.
Coping focalizado na emoção é definido como um esforço para regular o estado emocional que é associado ao estresse, ou é o resultado de eventos estressantes. Estes esforços de coping são dirigidos a um nível somático e/ou a um nível de sentimentos, tendo por objetivo alterar o estado emocional do indivíduo. A função destas estratégias é reduzir sensação física desagradável de um estado de estresse.
Coping focalizado no problema constitui-se em um esforço para atuar na situação que deu origem ao estresse, tentando mudá-la. A função desta estratégia é alterar o problema existente na relação entre a pessoa e o ambiente que está causando a tensão.
Conceito de Mindfulness
Aprender a lidar com emoções é um motivo que leva muitas pessoas a procurarem auxílio da psicologia. Dentro do contexto dessa necessidade, o conceito de mindfulness ganhou destaque nas terapias comportamentais e cognitivas nas últimas duas décadas.
O mindfulness é muito praticado pelos terapeutas ACT. A ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso) faz parte da chamada terceira onda das terapiascomportamentais A ACT oferece uma série de ferramentas clínicas para que se tenha consciência da evitação e também promove a aceitação e tolerância a eventos emocionais aversivos, o que geralmente tira o foco da ação do cliente na busca por seus objetivos. Assim, o intuito seria “aceitar o que não se pode mudar e comprometer-se com o que é possível mudar” (Savoia, Vogel, 2010).
Juntamente com a ACT, desenvolve-se o conceito de Mindfulness.
Mindfulness é o exercício de estar ativo e consciente do que acontece na própria mente, no corpo e nas experiências de vida. O objetivo é prestar atenção nos pensamentos, permitindo que eles apareçam. Ou seja, não há uma proposta de avaliar o pensamento, se é bom, se é coerente, etc. A proposta é apenas observar, tomar consciência e deixar-se experimentar o que acontece no momento presente. A prática de mindfulness passou a fazer parte da medicina comportamental a partir dos programas de redução de estresse de Kabat-Zinn. Kabat-Zinn se baseou na sua experiência pessoal com a meditação, quando trouxe as práticas budistas para a medicina comportamental. Essa contribuição ocorreu no momento em que surgia, no espectro das terapias cognitivo-comportamentais, um campo teórico e filosófico fértil, pronto para recebê-la. A nova tendência na clínica era favorável a esse encontro com a meditação, porque apresentava aspectos muito semelhantes aos do budismo: ensinava que as sensações e emoções negativas não devem ser combatidas, mas aceitas de um ponto de vista transcendental; valorizava emoções positivas, atitudes de vida de compaixão e um desprendimento dos conteúdos conceituais (Hayes, 1987; Linehan, 1993 apud Vandenberghe & Assunção).
A prática do mindfulness não tem cunho religioso algum, longe disso, esse tipo de intervenção tem sido bastante estudado cientificamente, e seus benefícios podem ajudar pessoas com os mais elevados níveis de estresse.
Referências
ESTEVE, J. M. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Bauru: EDUSC. 1999.
FOLKMAN, S., & LAZARUS, R. S. An analysis of coping in a middle-aged community sample. Journal of Health and Social Behavior, v. 21, pp. 219-239, 1980.
LIPP, M. E. N. Inventário de sintomas de stress para adulto de Lipp – ISSL. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2000
REINHOLD, H. H. Stress ocupacional do professor. Em M. E. N. Lipp (Org.), Pesquisas sobre stress no Brasil: saúde, ocupações e grupos de risco. Campinas, SP: Papirus. pp. 169-194. 1996.
SAVOIA, M. G., VOGEL, K. Evidências na Terapia Cognitivo Comportamental. Artigo disponibilizado via e-mail pelas autoras
SELYE, H. The evolution of the stress concept: stress and cardiovascular disease. In L. Levi. Society, stress and disease. V.1, pp.299-311. London: Oxford University Press, 1970.
VANDENBERGHE, L.; ASSUNÇÃO, A. B. Concepções de mindfulness em Langer e Kabat-Zinn: um encontro da ciência Ocidental com a espiritualidade Oriental. Contextos Clínicos, v. 2, n. 2, jul/dez. 124-135, 2009.