Meu nome é Ludovico. Sou um rato branco e nasci no Instituto Superior de Psicologia. Como se vê sou muito importante, afinal sempre entendi que um rato para ter “status” precisa nascer no Instituto.
Minha família é numerosa, e nasci órfão de pai. Talvez, isto possa ser classificado como “problema familiar”. Pelo que tenho lido de Freud, problemas na infância podem ter sérias conseqüências na idade adulta. Na verdade não estou muito preocupado, pois creio que tenho um “ego” bem estruturado e personalidade equilibrada...
Sou o oitavo filho de uma família de quatro irmãos e quatro irmãs. Todos nascemos normais, mas gostaria de ter tido pelo menos um irmaõzinho com oligofrenia fenil pirúvica, ou, talvez, psicose maníaco depressiva, só para observar-lhe o comportamento, e quem sabe controlar algumas variáveis...
Na minha infância, que durou 25 dias ao lado da mamãe, não fiz outra coisa que comer, dormir, crescer e começar a ficar bonitinho. A vida teria sido mais fácil se não fosse a competição pela comida; meus irmãos eram demasiadamente famintos, exatamente como eu. Creio que para vivermos em melhor harmonia seria preciso uma dinâmica de grupo em família.
Separado da mamãe, cresci acompanhado de meus três irmãos e esse foi um período divertido. Brincávamos o dia todo, e como nascemos numa escola, nunca tivemos o problema de “ir para a escola”... Nas minhas horas de folga lia Mickey Mouse, até que me aconselharam a ler Freud, Skinner, Keller, e até o livro de Krech-Crutchfield tive nas mãos, sem contar as apostilas do Dr. Bernardo...
Nunca me preocupei com o que seria no futuro, mas, é claro, o sonho de qualquer rato é ser campeão em percorrer labirintos. Esperei ansiosamente até completar 90 dias, pois o Prof. Luís Otávio não nos permite começar a trabalhar antes, e não pude concretizar aquela minha aspiração, pois a “moda” agora é outra. Acabaram dando-me uma barra limpa, mora! Aliás, como diz o Keller - Schoenfeld uma das grandes vantagens de pressionar a barra é que o animal trabalha no seu próprio ritmo: eu sou da onda do iê-iê-iê, e já viu meu ritmo... minha freqüência de resposta é uma lenha... Não tenho calhambeque, mas minhas curvas são arrojadas. No meu último experimento foi negativamente acelerada. Meu melhor divertimento é ir ao laboratório. Subo com uma sêde danada, mas já condicionei meu dono a me colocar dentro da caixa de Skinner onde bebo minhas gotinhas d’água.
Tenho muitas admiradoras, mas apesar de a Raquel Sampaio querer, insistentemente que me case, sou do tipo que não pensa em casamento.
Minha vida de modo geral é boa, apesar de viver numa gaiola, e passar à ração e água. Às vezes, passo por maus bocados, quando meus donos se esquecem de mim, e então, posso ficar realmente em perigo de vida, dias sem beber.
Não mordo ninguém, e pelo contrário gosto muito de receber carinhos. Aliás, condição indispensável para uma conduta murina normal é ser tratado com cuidado, benevolência, e muito “cafuné”. Caso contrário teremos que fazer psicoterapia, e quem sabe necessitar de um “divãzinho”.
Quanto ao futuro já estou conformado. Nunca revelei a nenhum colega para não alarmar os mais emotivos, mas li por acaso numa instrução que morreremos “o mais humanamente possível”. Seja assim... por amor à ciência
AUTO BIOGRAFIA DE UM RATO - Hélio J. Guilhardi, disponível em: http://www.terapiaporcontingencias.com.br/pdf/helio/Autobiografia_Rato.pdf
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